Sejam bem-vindos a mais uma Semana em África. A actualidade desta semana ficou marcada por novos desenvolvimentos em Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique, onde se caminha para atingir um novo recorde de violência ainda este ano.
As Nações Unidas falam em 519 ataques até ao final de agosto, em comparação com 448 em 2022. Em comunicado, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, dá conta de que a maioria dos incidentes são ataques de grupos armados contra civis, ataques estes que incluem a utilização de explosivos improvisados.
De acordo com o mesmo organismo, desde agosto, mais de 20 mil pessoas foram obrigadas a fugir desta província, incluindo mais de 10 mil crianças. A violência levou mesmo os Médicos Sem Fronteiras a anunciar a suspensão temporária das suas actividades na vila e nas localidades do distrito de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado. A organização justifica a decisão devido ao agravamento da violência e apela a que a segurança de civis e dos trabalhadores humanitários seja assegurada.
A presidente cessante da organização "Continuadores de Moçambique", Isaura Nyusi, lamentou esta situação, em entrevista à RFI. “Os ataques terroristas perpetrados na província de Cabo Delgado causaram deslocações das populações com impacto negativo na vida das criancas e adolescentes privando-os dos seus direitos e deveres incluindo o de estudar e de cuidados de saúde”, rematou.
Apesar desta instabilidade, o Presidente da República considera que estão criadas todas as condições de segurança para a retoma do projecto da Total em Palma, na província de Cabo Delgado. A garantia foi deixada na cerimónia de assinatura, em Maputo, da decisão final de investimento do Coral norte FNLG com a italiana ENI, projecto com funcionamento previsto para 2029 e, onde se prevê mais de 23 mil milhões de dólares em receitas fiscais e o assegurar de 800 milhões de dólares em contratos para empresas moçambicanas só nos primeiros seis anos.
Daniel Chapo afirmou que a decisão final de investimento entre os operadores da Área 4 da bacia do Rovuma e o Governo abre "uma janela de esperança para os moçambicanos".
"O Coral Norte é mais do que um projecto de gás. É um passo em direcção à independência económica de Moçambique, ao fortalecimento da nossa resiliência enquanto moçambicanos, unidos do Rovuma ao Maputo", declarou o Presidente moçambicano.
O chefe de Estado assegurou ainda que a retirada das forças ruandesas acontecerá após a fase de desenvolvimento do projecto de gás e da formação de militares moçambicanos para o combate ao terrorismo. “Afirmamos que estão reunidas condições para o levantamento da força maior e aguardamos, em breve, o pronunciamento da concessionária da Área 1, projecto Mozambique LNG, sobre esta matéria”, terminou.
Angola vai realizar Congresso Nacional de Reconciliação
Angola vai realizar, na primeira semana de Novembro, o Congresso Nacional de Reconciliação, uma iniciativa da Conferência Episcopal. O Presidente angolano já confirmou a sua presença neste evento, que antecede os 50 anos da independência. Para a Igreja Católica, nomeadamente, na voz de José Manuel Imbamba, Presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, a reconciliação seria a “peça fundamental” para o país.
"Para nós é a peça fundamental e isto é um processo que nós devemos construir juntos, sem exclusão, sem rotulações, sem esta tendência da política do militante que nós estamos a levar a cabo, que está a nos colocar de costas viradas uns contra os outros e, sobretudo, nos focarmos na política da cidadania. É isto que nós desejamos e é esta Angola que nós queremos", começou por referir.
O responsável acredita que é tempo de deixar de viver do passado inglório. "Basta de estarmos sempre a viver do passado inglório que nós carregamos ainda. E então há a necessidade de fazermos este exorcismo nacional, este exorcismo das consciências, esse exorcismo dos políticos", salientou ainda, em entrevista à RFI.
Cabo Verde é o novo "destino sexual" para as cidadãs espanholas
Cabo Verde é o “novo destino sexual” para as cidadãs espanholas. Quem o diz é o jornal “El Español”, que revelou, esta semana, que existem mulheres que viajam para as ilhas do Sal e de São Vicente à procura de sexo com homens jovens.
O presidente da Associação dos Guias de Turismo de São Vicente, Ruben Moreira, já reagiu e afirmou à RFI que, em São Vicente, não existe turismo sexual, sublinhando que os turistas que visitam o país, vêm à procura das paisagens e gastronomia.
“O turismo sexual não existe aqui em São Vicente, até porque, quando as pessoas vêm, independentemente da nacionalidade, o que fazemos é mostrar-lhes o que temos de mais interessante e bonito sobre a nossa história, a nossa cultura e tudo o que as traz aqui: as nossas paisagens, a gastronomia e tudo o que elas ou eles também possam encontrar aqui em Mindelo, em Cabo Verde, de forma geral. Eu não acredito que o turismo sexual seja algo para se levar a sério em Cabo Verde. Acredito, sinceramente, do meu ponto de vista, que pode haver um ou outro caso pontual, mas não existe em Cabo Verde da forma como está a ser retratado na imprensa internacional”, disse o presidente da Associação dos Guias de Turismo de São Vicente, Rúben Moreira.
Apesar dos nossos esforços, não foi possível ouvir, até ao momento, a reacção do Instituto Nacional do Turismo sobre o fenómeno de turismo sexual no arquipélago apontado pelo jornal "El Español".
Em Cabo Verde, o sector do turismo bateu novos recordes em 2024, dados do Instituto do Turismo de Cabo Verde deram conta de que cerca de 1,2 milhões de turistas visitaram o arquipélago no ano passado.
Geração Z: da Ásia a África alastram os protestos juvenis
Para terminar, falamos-lhe ainda sobre um tema que está a marcar a actualidade dos últimos dias. Vários países do mundo, nomeadamente, na Ásia e África que têm sido palco de protestos levados a cabo pela chamada geração Z. É o caso de Marrocos ou de Madagáscar. Grupos de jovens têm contestado a governação de uma série de países e conseguido até, em alguns casos, concessões do poder, por exemplo as marchas estudantis em Timor Leste ou os protestos em Madagáscar.
A chamada "Geração Z" refere-se a pessoas nascidas nos finais da década de 90 do século passado e no início dos anos 2010, do século XXI. Jovens que estão inconformados com a gestão dos seus países e têm saído à rua. Foi o caso nesta terça-feira nas maiores cidades marroquinas com apelos de centenas de jovens à reforma da educação e à melhoria dos serviços de saúde pública.
Era já o quarto protesto do género, com registo de confrontos entre manifestantes e forças da ordem, num movimento sem líder declarado.O governo em comunicado na noite passada afirmava perceber as reivindicações e estar pronto a responder de forma positiva.
Já em Madagáscar, apesar da demissão do governo, os protestos também sob a batuta da dita geração Z prosseguiram nesta terça.
Os jovens querem agora a demissão do chefe de Estado, Andry Rajoelina e apelam à solidariedade dos mais velhos, da geração X, nascidos nos anos 60, para que venham engrossar as fileiras do movimento.
O símbolo da revolta desta geração Z tem sido um pirata, o herói "One Piece" dos livros japoneses de banda desenhada "manga".
Em Madagáscar, o movimento conseguiu já a demissão do ministro da energia, e depois, mesmo, de todo o executivo, mas continua a sair à rua, apesar das desculpas do Presidente pela gestão política do país, apelando a que este também seja afastado dos desígnios nacionais.
Protestos idênticos também se registaram numa série de países asiáticos como o Nepal ou a Indonésia ou, mesmo, em Timor Leste de estudantes, inconformados com a forma como o país é gerido.
Neste território lusófono, o parlamento voltou atrás em relação a regalias de deputados e da classe dirigente, incluindo a compra de carros topo de gama e pensões vitalícias para parlamentares e ex-titulares de órgãos de soberania.